"O passado sempre volta pra cobrar". Com essa frase base, Robson Moura constrói uma horripilante história de terror, baseada no tratamento que os negros escravizados recebiam e no legado que essas pessoas deixaram, perpetuando o racismo até os dias atuais.
A HQ nos apresenta três irmãos, filhos de um político com um passado nefasto. Com comportamentos racistas absurdos, eles precisam resolver o que fazer com a herança do pai que acabara de falecer e decidem visitar uma das propriedades dele, uma casa grande colonial, afastada da cidade. O local foi palco de muitas atrocidades com pessoas negras e possui uma suposta lenda urbana de que é assombrado pelos espíritos dos escravizados. Não tarda para que os três descubram que a história não é apenas uma lenda e que o passado está ali, pronto para cobrar sua vingança.
O novo quadrinho do Robson Moura é uma mistura de elementos do passado e do presente, sendo praticamente uma aula de como as coisas se contornam historicamente para se ter comportamentos que vemos até hoje. Ainda que tenha um tom de terror sobrenatural, suas bases são os fatos de como além de escravizados, os negros eram torturados ao bel prazer de seus "senhores", mostrando o sadismo que arrisco dizer que existe até hoje, mas está camuflado dentro do nosso sistema, para acreditarmos nesta "justiça" que mata pessoas negras com o mesmo sentimento.
Robson também utiliza de símbolos importantes para fundamentar sua história e personagens, como a suástica usada por um dos irmãos, trazendo para o debate também a falsa ideia de liberdade de expressão que supremacistas brancos alegam, quando utilizam de tais símbolos. Além é claro, do clássico Monteiro Lobato, que foi parte da base de criação dos três. Há diversos outros elementos que podem ser pesquisados individualmente, ampliando a gama de referências e conhecimentos históricos do leitor (vide o livro das Ordenações Filipinas V, na estante do local).
Casa-Grande é uma daquelas HQs de terror visceral, que você torce para que o pior aconteça. Pesada, sangrenta e historicamente bem moldada, é mais um excelente trabalho deste autor que está sempre contando boas histórias antirracistas.
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