Quando você conta histórias da sua vida, como são as recepções das pessoas? Acredito que todos temos boas vivências para contar, mas o que muda tudo é a forma como contamos. Thiago Ossostortos mostra (mais uma vez), como é um exímio contador de histórias com empatia, sinceridade e simplicidade. Dois Mil e Um Chopes, sua nova publicação é mais um exemplo disso.
Na HQ, Ossostortos nos conta um recorte bastante importante de sua vida, que acredito eu, ter definido bastante o artista que ele é hoje: sua transição da adolescência para a vida adulta. A narrativa se inicia com seus pais indo morar em São José do Rio Preto em meados de 1999. Apesar das tentativas de ficar na cidade grande, o autor teve que ir morar no interior, coisa que o frustrou muito, pois em São Paulo ele estava estudando desenho, tinha um ciclo social etc. Porém, essa fase possibilitou um amadurecimento, já que ele colocou como objetivo trabalhar duro para poder voltar para Sampa sozinho. Com isso, vemos um Thiago cheio de força de vontade e garra, trabalhando nas oportunidades que surgiram como numa locadora, como garçom ao mesmo tempo que terminava o ensino médio.
O roteiro do artista, como não podia ser diferente de suas outras obras, é repleto de nostalgia com muitas referências aos anos 2000, seja através de filmes, músicas e até o estilo de vida dos adolescentes da época, com seus fichários de banda descolados. Essa habilidade em retratar e inserir o leitor naquele momento histórico é uma marca registrada e é sempre uma boa pedida.
Thiago não só faz mais uma história biográfica, como também demonstra sua força de vontade para atingir seus objetivos, trazendo uma narrativa de superação. Não há um grande clímax, talvez porque já sabemos como as coisas acabaram. Mas o grande segredo está nos detalhes, sem contar que há quem diga que o que mais importa nas histórias não é o começo ou o fim, mas sim a trajetória.
Ossostortos definitivamente é um dos autores mais sensíveis e notáveis do cenário independente, pelo menos na minha opinião.
Comments